Memórias

120 anos de Clube e Museu Treze de Maio: uma trajetória feita por histórias e pessoas

Sociedade cultural ferroviária ou museu comunitário, o Treze de Maio segue se fortalecendo enquanto palco de sonhos, narrativas e conquistas da população negra santa-mariense.
O Diário reuniu alguns relatos de frequentadores do Treze de Maio para destacar a importância e o simbolismo do prédio localizado na Rua Silva Jardim.


“Frequentei o Clube Treze de Maio por muitos anos: infância, como rainha do Carnaval Infantil; adolescência, incluindo minha festa de 15 anos, debut, rainha do Carnaval adulta, festa de 25 anos de casamento dos meus pais, além da festa do clube em comemoração a cinco negros associados que foram aprovados no vestibular de 1972 em Letras, Engenharia, Direito, Medicina e Veterinaria. Participei no Departamento Social do Clube, em bailes, reuniões dançantes, teatro, palestras, concursos, orquestras... Tudo isso lembro com muito orgulho e saudade, tanto que é difícil falar sobre o que mais gostei. Mas, vou escolher minha participação como Rainha do Carnaval adulta, em 1970. Recebi o título de primeira princesa do Carnaval do Centro e primeiro lugar em fantasia e originalidade, já que a mesma era Deusa de Watusi.”

Alcione Flores do Amaral, 69 anos
Professora de Inglês aposentada
Participou do clube de 1963 até o fechamento.


“Da minha trajetória acadêmica-ativista, saliento as oportunidades de investigar e vivenciar experiências voltadas para a salvaguarda do patrimônio cultural material e imaterial, para a memória social de comunidades historicamente excluídas, como as populações negras e LGBT+. Isso só foi possível porque, antes mesmo de entrar no meio acadêmico, eu já estava inserida no Museu Treze de Maio. Foi no “13”, neste espaço comunitário, que aprendi desde cedo a valorizar a diversidade de manifestações artísticas e culturais negras. O “13” é e sempre será a minha maior referência de trabalho coletivo, técnico e científico para a recuperação das histórias e memórias de grupos marginalizados na sociedade. Nós, dinamizadores do Museu Treze de Maio, somos a utopia no presente e onde quer que estejamos, levaremos sempre o amor, as ações, as contra-narrativas decoloniais conosco. Tal como Sankofa, continuaremos as lutas ancestrais pela justiça e pelo bem-viver das comunidades negras”.


Geanine Vargas Escobar, 32 anos
Conservadora-restauradora e pesquisadora na área 

dos Estudos Culturais e Museologia.

Frequentou e promoveu atividades no Museu Treze de Maio no período de 2001 a 2015

“Participei do Treze de Maio enquanto clube até os anos 1980. Voltei à convite de Nei D’Ogum e, quando entrei na equipe, já era Museu. Todas as lembranças foram importantes na minha trajetória e até hoje, eu utilizo tudo que eu vi, escutei e falei lá. Fico feliz por ter tido o Treze de Maio na minha vida”.

Carmen Lucia coelho Chaves, 60 anos 
Artesã


“As lembranças que mais gosto do Museu são duas: com o Euwá Dandaras, que foi quando me reconheci enquanto mulher negra naquele grupo de dança e arte negras, ao lado de outras pessoas, professora, percussão e todo aparato. A segunda (lembrança) é com a Companhia do Samba, que foi quando eu criei um grupo de passistas e ensaiávamos no Museu Treze de Maio. Foi um grupo que me fez entender como ocorriam as pedagogias do samba e da dança, fazendo-me reconhecer como professora. Então, foram dois momentos muito importantes na minha vida e tudo aconteceu no Museu Treze de Maio”.

Karen Tolentino de Pires, 37 anos
Professora de dança e profissional de Educação Física.
Participou dos grupos de dança Euwá Dandaras, de 2003 até 2013, 

e Cia. do Samba, de 2012 a 2014

“Era o único clube de negros realmente, no qual podiamos entrar de cabeça erguida. Eu participei de boates e saraus. Fui diretor social do Clube. Eu ensaiava as rainhas, fazia as coreografias para o Carnaval quando o Clube participava. Uma vez, teve o concurso Rainha Gay Treze de Maio e eu participei. Fiquei com o título de princesa. Depois, o Clube fechou. Anos depois, Nei D’Ogum me convidou para participar de festividades. Muitas vezes, fiz shows na frente do Museu como Drag Queen, a Werusca Gamela Penosa. Marcou-me muito quando me convidaram para ser uma das personalidades negras de Santa Maria em Olhares Negros. Para mim, foi uma honra”.

​Cleocir Guimarães, 54 anos
Babalorixá

“Conheci o Museu Treze de Maio em 2009 quando, pela primeira vez, tive uma aproximação com o tema Patrimônio Cultural e, especialmente, a abordagem imaterial que trata sobre Clubes Sociais Negros. Trago a lembrança de um momento muito especial: o lançamento do Website do Museu Comunitário do Museu Treze de Maio, em março de 2014, porque a partir dessa ação, tive o entendimento da potência que que são nossos clubes e passei a integrar o movimento dos Clubes Sociais Negros do Brasil. Essa conexão com o Treze foi determinante para iniciar as ações culturais no Clube Recreativo Harmonia”.

Cátia Cilene Morais Dutra, 49 anos  
Professora e coordenadora do Conselho de Promoção da 

Igualdade Racial (Compir) de Caçapava do Sul


“O Museu Treze de Maio tem um sentido muito forte na minha vida, porque representa as necessidades e os anseios de querer transformar a sociedade. É uma luta por justiça. No Museu Treze de Maio, nós encontramos um terreno fértil para fazer com que as pessoas menos privilegiadas consigam dignidade. Então, as mais agradáveis lembranças que mantenho estão ligadas às atividades que mobilizam a sociedade santa-mariense e região, porque o Museu sempre promove atividades que vão além da cidade. Estarmos em movimento é a minha melhor lembrança”.


Getúlio Silva Lemos, 80 anos
Professor universitário aposentado   

Participa das atividades desde 2013 e, atualmente, 

é diretor administrativo financeiro do Museu Treze de Maio


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